terça-feira, 23 de novembro de 2010

Salvador e a Menina mais bonita da escola

Texto: Pedro Sousa   
Ilustração: Fernando Lardosa

                Naquele final de tarde, depois de um dia de muito calor, Salvador decidiu experimentar as águas cristalinas do lago que via todos os dias no caminho para a escola e que tinha uma ilha bem lá no meio. Do outro lado, sem que ele se apercebesse, estava a Menina mais bonita da escola. A Menina que todos os rapazes queriam ter como amiga e às vezes até faziam disparates para que ela os considerasse mais fortes, pensavam eles.
                Depois de encostar a sua bicicleta, colocar a roupa no guiador e a mochila no chão, Salvador resolve mergulhar para o lago. Durante alguns minutos, parecia que o mundo era todo seu. Não havia nada que o incomodasse. Até os patos e gansos, que lhe acompanhavam as braçadas, faziam com que a sua alegria aumentasse, porque se sentia num mundo mágico.


                Entretanto, um burburinho se fez notar. De imediato, Salvador nada até à pequena ilha, para tentar perceber o que se estava a passar, e depara com um grupo de miúdos que andavam às voltinhas na sua bicicleta. No início, Salvador reagiu com muita naturalidade. Não era invejoso e nunca tinha rejeitado quando lhe pediam para andar na sua bicicleta, mas de repente as coisas ficam feias. Um dos rapazes, levanta a bicicleta e ameaça atirá-la para a água, outro dos miúdos, pega nas suas roupas e começa a rasgá-las e ainda outro, o mais pequeno do grupo, decide abrir a sua mochila e começa a rasgar os livros e os cadernos.
                Salvador estava assustado. Era novo naquela pequena aldeia e não conhecia quase ninguém. Tinha amigos na escola, mas esta ficava muito longe dali, ainda não tinha tido tempo para conhecer as pessoas da aldeia. Mas, de repente, ouviu uma voz estridente: «- Parem já com isso, seus malvados!». Era a Menina, a Menina mais bonita da escola, a Menina que todos queriam ser amigos, mas que não tardou a acudir e a tentar salvar os bens de Salvador.
                 Os rapazes, envergonhados com o sucedido, correram o mais depressa que puderam para longe do lago. A Menina, depois de reunir todo o material de Salvador, verificou que os cadernos e os livros estavam muito estragados, mas que não se preocupasse, porque ela iria estudar todos os dias com ele e, assim, podiam partilhar os mesmos livros. Salvador agradeceu muito aquele gesto e pediu que não se chateasse com os outros rapazes, porque eram irresponsáveis, mas tinham aprendido a lição.
 in Caderno Cultural do Jornal Povo de Fafe (03-12-2010)

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