domingo, 19 de dezembro de 2010

É Natal, é Natal…

Texto: Pedro Miguel Sousa 

Ilustração: Isa Simas 

Naquele ano, a noite de Natal estava muito diferente do habitual. As pessoas tolhidas do frio mal se cumprimentavam e o vento assobiava como nunca. Na janela do quarto, enquanto esperava que a mãe terminasse de preparar o jantar e o resto da família chegasse, o Ruca contemplava a indiferença que se sentia entre as pessoas que se cruzavam na esquina da sua casa.
Depois de observar várias vezes a reacção gélida, Ruca decide enviar um sms para os amigos. Na sua mensagem estava apenas escrito: «Natal, dia de festa!», mas fora o essencial, porque em menos de cinco minutos, a campainha da sua porta tocou mais do que vinte vezes e as palavras do Ruca, para a mãe ocupadíssima, repetiam-se: ‘Eu vou lá mãe, é para mim!»


Ninguém compreendia mais o que se estava a passar naquela casa. A correria para o quarto do Ruca era já mais forte do que o vento que se fazia sentir lá fora. Num breve instante, depois de uma reunião apressada, Ruca desce as escadas com os seus amigos e parte em direcção àquela porta como um tufão endiabrado, nem mesmo as palavras de sua mãe o faziam acalmar.
Uma vez lá fora, a rua da casa do Ruca via-se tomada pelos pirralhos da aldeia. Os putos, como lhes chamava o Prior que jogava à bola com eles antes da catequese, começaram a proferir palavras de ordem a todos que tivessem a sorte, ou azar para os que se recusavam insistentemente a falar, de atravessar a Rua: ‘Bom Natal! – Uma Noite Feliz! – Que a sua ceia seja um Presépio de Alegria!’
A certa altura, já não era fácil avistar mais os miúdos, pois uma multidão de gente cobria os pequenotes enquanto cantavam: ‘É Natal, é Natal salvação e luz. Alegria, Cristãos, já nasceu Jesus…’
Na Igreja, o amigo dos ‘putos’ abria as portas com muita luz no seu interior, enquanto o sacristão tocava os sinos, apelando a entrar. A noite de consoada não foi mais feita de costas voltadas, porque todos se juntaram na Igreja e partilharam os alimentos, as histórias e canções de Natal.
Naquele momento, dava-se mais uma manifestação do Menino, dos Meninos, ou dos putos que queriam apenas salvar a ‘verdadeira mensagem de Natal’.

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